Certa vez correu o boato que haviam feito um trabalho forte
contra o Vasco. Dizia-se que um sapo fora enterrado em São Januário. Bastou.
Todo o gramado foi removido, todo o piso escavado na procura pelo tal sapo
maligno. Isso foi antes que eu me entendesse por gente, mas é de minha época de
Maracanã, a figura de Santana, o massagista do Vasco que também era conhecido
por Pai Santana.
Lembro-me de ter visto, antes de um Vasco e Flamengo,
Santana se dirigindo para uma das balizas antes do início do jogo e lá fazer
suas rezas e mandingas. Santana levava muito a sério suas duas funções no time:
massagista e macumbeiro. No fim dos anos 70 ele foi à Nigéria fazer a cabeça.
Assim era em todo time que se prezasse; o massagista, além
de sua função de alisar músculos, também era o encarregado das ligações com o
além. Se não era o massagista, era o roupeiro.
Hoje, creio, não há mais isso. Todos os jogadores, salvo
raríssimas exceções, são evangélicos e essa gente abomina toda fé que não seja
a sua. Já não há lugar para a macumba, o feitiço, a mandinga.
É de se notar que mesmo dentro de uma estrutura careta e
branca (a dos clubes de futebol) essas manifestações de fé eram, pelo menos,
toleradas. Entre os jogadores acontecia igual. Pelé, que é católico de rezar o
Ângelus todos os dias, jamais usou seu prestígio para inibir as práticas
religiosas de origem africana.
A história que se escreve nos dias de hoje é diferente.
Não faz muito tempo, o Santos mandou uma delegação de
jogadores para visitar um lar de crianças órfãs. Quando lá chegaram e viram que
se tratava de uma instituição gerida por espíritas, vários jogadores, entre
eles Neymar, se recusaram a sair do ônibus que os levara. A intolerância dos
evangélicos não poupou nem os órfãos.
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