quinta-feira, 4 de julho de 2013

Macumba


                Certa vez correu o boato que haviam feito um trabalho forte contra o Vasco. Dizia-se que um sapo fora enterrado em São Januário. Bastou. Todo o gramado foi removido, todo o piso escavado na procura pelo tal sapo maligno. Isso foi antes que eu me entendesse por gente, mas é de minha época de Maracanã, a figura de Santana, o massagista do Vasco que também era conhecido por Pai Santana.
                Lembro-me de ter visto, antes de um Vasco e Flamengo, Santana se dirigindo para uma das balizas antes do início do jogo e lá fazer suas rezas e mandingas. Santana levava muito a sério suas duas funções no time: massagista e macumbeiro. No fim dos anos 70 ele foi à Nigéria fazer a cabeça.
                Assim era em todo time que se prezasse; o massagista, além de sua função de alisar músculos, também era o encarregado das ligações com o além. Se não era o massagista, era o roupeiro.
                Hoje, creio, não há mais isso. Todos os jogadores, salvo raríssimas exceções, são evangélicos e essa gente abomina toda fé que não seja a sua. Já não há lugar para a macumba, o feitiço, a mandinga.
                É de se notar que mesmo dentro de uma estrutura careta e branca (a dos clubes de futebol) essas manifestações de fé eram, pelo menos, toleradas. Entre os jogadores acontecia igual. Pelé, que é católico de rezar o Ângelus todos os dias, jamais usou seu prestígio para inibir as práticas religiosas de origem africana.
                A história que se escreve nos dias de hoje é diferente.

                Não faz muito tempo, o Santos mandou uma delegação de jogadores para visitar um lar de crianças órfãs. Quando lá chegaram e viram que se tratava de uma instituição gerida por espíritas, vários jogadores, entre eles Neymar, se recusaram a sair do ônibus que os levara. A intolerância dos evangélicos não poupou nem os órfãos. 

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