A visita do Papa e o nascimento do novo príncipe inglês,
ocupam todos os meios de comunicação do país. Nos telejornais, apresentadoras
fazem cara de ternurinha ao mencionarem a princesa que pariu e o fofuchíssimo
herdeiro. Repórteres assumem tom grave, combinando com a gravata, ao se referirem
as andanças de Sua Santidade pelo país.
Momentos antes do nascimento de mais um representante do
império colonialista, recebíamos ao vivo as imagens elucidadoras da porta do
hospital onde a princesa fazia o que qualquer mulher faz. Aliás, foi o que
noticiou o jornal Private eye cuja manchete é:”Mulher tem bebê”.
Por aqui não há o humor de Private eye. Nossa imprensa leva
a sério acontecimentos que deixaram de ter importância há pelo menos cem anos.
Mas se nos deixa perplexos que os informativos transmitam ao
vivo a imagem da porta de um hospital inglês, mais atônitos nos deixam as
imagens divulgadas das manifestações contra o governador do Rio.
Durante vários
minutos, nos quais supostos jornalistas balbuciavam acacianos comentários, a
GloboNews exibia uma gravação de uns poucos segundos das cenas do ataque
policial aos manifestantes. As mesmas imagens foram repetidas várias e várias
vezes. Dezenas de vezes. Além do mais, pareciam ter sido colhidas pelos famosos
cinegrafistas amadores usando celulares. A qualidade era pior do que a das
imagens da guerra do Vietnan ou da deposição de Allende. De certo as equipes de
filmagem da emissora estavam mais ocupadas colhendo imagens do quarto onde se
hospeda Sua Santidade, mostrando cada detalhe da humildade do “Papa dos pobres”,
como o alcunhou Veja em sua última edição, e seus repórteres entrevistando os
jovens católicos que andam pagando mico pelas ruas do Rio.
Nossa imprensa não só acompanha com grande interesse esses
fatos subalternos como deixa de lado qualquer afastamento jornalístico e mostra
inequívoca simpatia por seus protagonistas.
Meses atrás, o outro príncipe fez uma viagem às Ilhas Malvinas
com o único intuito de provocar o Governo argentino, que tenta junto à ONU uma
mediação no contencioso pela posse do arquipélago. A imprensa brasileira
aproveitou a ocasião para espinafrar Cristina Kirshner e não o ato provocador.
A Presidente argentina teve a audácia de aprovar no parlamento de seu país a “Ley
de médios” e isso a incompatibilizou com os que aqui detêm o monopólio da
informação, temerosos que a lei argentina sirva-nos de exemplo.
Os escândalos de pedofilia praticados por padres e bispos, e
acobertados pela Santa Sé, foram esquecidos pela imprensa brasileira embora
nenhuma medida realmente importante tenha sido tomada pelo vaticano e seu novo
chefe para pôr cobro à prática nefasta tão comum entre os clérigos católicos. Não querem manchar a visita do Sumo Pontífice com essas ninharias.
Tampouco o passado de Bergoglio é citado nas incontáveis reportagens sobre sua
visita, ou melhor, fala-se que quando era bispo em Buenos Aires ele se
locomovia de metrô. Taí uma boa manchete pro Private eye: “Homem anda de metrô”
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