segunda-feira, 1 de julho de 2013

O fusquinha e a chapinha


                Outro dia, na Câmara dos deputados, um parlamentar para defender o extrativismo mineral em terras indígenas, disse que os lucros da mineração dariam a todo índio, e não só ao cacique, fez questão de frisar, um carro do ano. Pois é, na cabeça de nosso representante esse deve ser o sonho de todo índio; um carro do ano. 
                Lembrei-me imediatamente do Presidente uruguaio e seu fusquinha. Quão distante está José Mujica de nossos parlamentares e da teologia da prosperidade, esse eufemismo para a ganância desmedida e despudorada com o suposto aval do suposto deus dos supostos cristãos fundamentalistas.
                Ateu, Mujica doa grande parte de seu salário para o bem público, dispensa o palácio do governo e vai todo dia em seu possante para o pequeno sítio onde mora com a mulher que é parlamentar e que também doa parte substancial de seus vencimentos para a causa dos mais pobres.
                Mesmo os nossos deputados e senadores mais corretos (e são poucos), pouco ou nada falam da atitude de desapego às mostras de prosperidade burguesa do Presidente uruguaio. O homem deveria ser citado todos os dias como exemplo de servidor público e para os religiosos como exemplo do que deveria ser a atitude de um cristão. Claro que para Malafaia e congêneres, José Alberto Mujica Cordano anda em pecado mortal não só por ser ateu como por não desfrutar do que Deus pôs à sua disposição quando lhe deu a presidência do país platino, pois, como todos sabemos, nem uma folha cai de uma árvore sem o consentimento de Deus. O homem é um perdulário da graça divina.
                Nas redes sociais alguns brasileiros elogiam Mujica por sua simplicidade, mas se fosse ele nosso presidente, esses mesmos comentadores o chamariam de terrorista assim como deram de nomear nossa Presidenta numa total inversão de valores e de revisionismo histórico digno dos negacionistas dos crimes nazistas.
                Mas tudo que escrevi até agora você pode ignorar. O que queria mesmo era dizer que estamos vivendo num mundo de loucos. Loucos de pedra. O pronunciamento do estúpido deputado que citei acima é apenas um grão de areia no deserto de idéias que nos rodeia.
                Outro representante da classe política com assento no parlamento quer abolir o estatuto do desarmamento. Quer distribuir armas a todos que possam comprar, claro, para diminuir a violência. Pois é, ele pensa que se todo mundo, que possa comprar legalmente uma arma, estiver armado, o bandido ficará intimidado ou algo assim. O relator do projeto bang-bang também está convicto de sua eficácia e cita o “direito universal” de se possuir uma arma. Sim, ele fala de direito universal.
                O relator também cita o plebiscito sobre o desarmamento. Diz que após o referendo houve “um descompasso entre a vontade popular e a lei vigente”. Ora, se fosse dar ouvidos às vontades da população, o senhor relator andaria de fusquinha e não receberia os gordos vencimentos e regalias que recebe.
                Não cito o nome dos parlamentares envolvidos nessa estupidez para não dar milho a bode. Veja o que aconteceu com o Feliciano.
                O homem andava por aí com sua chapinha sempre renovada e suas sobrancelhas depiladas a laser e ninguém, além de seu curral, sabia de sua obscura existência. Depois de muito ser citado como mostra da imbecilidade corporificada, ganhou um enorme contingente de fãs e os salões de beleza que fazem chapinhas já não dão conta da procura por esse embelezamento capilar.
                Melhor é não citar o nome  desse tipo de gente.


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