Outro dia, na Câmara dos deputados, um parlamentar para
defender o extrativismo mineral em terras indígenas, disse que os lucros da mineração
dariam a todo índio, e não só ao cacique, fez questão de frisar, um carro do
ano. Pois é, na cabeça de nosso representante esse deve ser o sonho de todo
índio; um carro do ano.
Lembrei-me imediatamente do Presidente uruguaio e seu
fusquinha. Quão distante está José Mujica de nossos parlamentares e da teologia
da prosperidade, esse eufemismo para a ganância desmedida e despudorada com o
suposto aval do suposto deus dos supostos cristãos fundamentalistas.
Ateu, Mujica doa grande parte de seu salário para o bem
público, dispensa o palácio do governo e vai todo dia em seu possante para o
pequeno sítio onde mora com a mulher que é parlamentar e que também doa parte substancial
de seus vencimentos para a causa dos mais pobres.
Mesmo os nossos deputados e senadores mais corretos (e são
poucos), pouco ou nada falam da atitude de desapego às mostras de prosperidade
burguesa do Presidente uruguaio. O homem deveria ser citado todos os dias como
exemplo de servidor público e para os religiosos como exemplo do que deveria
ser a atitude de um cristão. Claro que para Malafaia e congêneres, José Alberto
Mujica Cordano anda em pecado mortal não só por ser ateu como por não desfrutar
do que Deus pôs à sua disposição quando lhe deu a presidência do país platino,
pois, como todos sabemos, nem uma folha cai de uma árvore sem o consentimento
de Deus. O homem é um perdulário da graça divina.
Nas redes sociais alguns brasileiros elogiam Mujica por sua
simplicidade, mas se fosse ele nosso presidente, esses mesmos comentadores o
chamariam de terrorista assim como deram de nomear nossa Presidenta numa total
inversão de valores e de revisionismo histórico digno dos negacionistas dos
crimes nazistas.
Mas tudo que escrevi até agora você pode ignorar. O que
queria mesmo era dizer que estamos vivendo num mundo de loucos. Loucos de
pedra. O pronunciamento do estúpido deputado que citei acima é apenas um grão
de areia no deserto de idéias que nos rodeia.
Outro representante da classe política com assento no
parlamento quer abolir o estatuto do desarmamento. Quer distribuir armas a
todos que possam comprar, claro, para diminuir a violência. Pois é, ele pensa
que se todo mundo, que possa comprar legalmente uma arma, estiver armado, o
bandido ficará intimidado ou algo assim. O relator do projeto bang-bang também
está convicto de sua eficácia e cita o “direito universal” de se possuir uma
arma. Sim, ele fala de direito universal.
O relator também cita o plebiscito sobre o desarmamento. Diz
que após o referendo houve “um descompasso entre a vontade popular e a lei vigente”.
Ora, se fosse dar ouvidos às vontades da população, o senhor relator andaria de
fusquinha e não receberia os gordos vencimentos e regalias que recebe.
Não cito o nome dos parlamentares envolvidos nessa estupidez
para não dar milho a bode. Veja o que aconteceu com o Feliciano.
O homem andava por aí com sua chapinha sempre renovada e
suas sobrancelhas depiladas a laser e ninguém, além de seu curral, sabia de sua
obscura existência. Depois de muito ser citado como mostra da imbecilidade
corporificada, ganhou um enorme contingente de fãs e os salões de beleza que
fazem chapinhas já não dão conta da procura por esse embelezamento capilar.
Melhor é não citar o nome desse tipo de gente.
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