Foi na primeira manifestação do ano contra o abusivo aumento
das passagens de ônibus. A Globonews transmitia ao vivo e enquanto seus
jornalistas falavam em vândalos e baderneiros, uma imagem era mostrada. Parecia
que estava sendo colhida do alto de um edifício. Via-se que na interseção de
duas vias ardia uma fogueirinha.
Desatento aos clichês da narração me lembrei da versão de Gil
para o clássico de Bob Marley “No woman no cry” quando o baiano fala “
observando estrelas junto à fogueirinha de papel”. Era isso que se via: uma
fogueirinha de papel no meio da rua. Mas em volta da minúscula fogueira juntou
gente, ou melhor, juntaram-se fotógrafos e cinegrafistas. Um deles ajoelhava-se
para melhor filmar a fogueira, outros davam voltas em torno do minguado
foguinho como se buscassem o melhor perfil. Era o making off da farsa que os
farsantes mostravam despercebidamente. A fogueirinha devia estar se achando; mais
fotografada que rainha de bateria.
O engraçado é que a imagem
dos cinegrafistas e fotógrafos rodeando a fogueirinha como se estivessem diante
da erupção do Vesúvio combinava com a narrativa dos jornalistas que tratavam
aqueles meninos mascarados com mochilas estudantis às costas, como terroristas,
inimigos da sociedade ordeira e do povo trabalhador.
Ao se dar conta da fogueirinha, que era apenas um ponto
luminoso na tela, o jornalista baixo clero que estava no estúdio da TV dos
Marinho sem saber mais o que dizer, recebeu um encosto que só costuma baixar no
Jabor e começou a falar no estratagema das fogueiras que eram ateadas para
chamar a atenção da polícia, enquanto os baderneiros se reagrupavam para mais uma
investida contra o patrimônio e o direito de ir e vir do cidadão de bem.
O advento da fogueirinha ardilosa e astuta e sua descoberta jornalística pode
ter sido um marco nas coberturas de manifestações no Brasil. De agora em
diante, pode ter certeza, os meninos mascarados serão chamados de vândalos
incendiários e baderneiros pirômanos.
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