quarta-feira, 22 de maio de 2013

A bolsa e a carteirinha



                Um boato maldoso sobre o bolsa-família levou multidões às agências da Caixa Econômica em todo o Brasil. Pronto, bastou. No dia seguinte, em vez de questionarem a quem interessaria o tal boato, a quem interessaria o caos que se formou nas agências bancárias, quem se beneficia de qualquer descrédito do governo e de seus programas sociais, os inteligentes do facebook começaram a postar charges e montagens fotográficas que criticavam o programa de renda mínima.
                Numa dessas charges, há uma porta com um cartaz que diz: Bolsa-família. Noutra porta o cartaz anuncia empregos. Há uma grande aglomeração diante da primeira porta enquanto na segunda não há ninguém. Na fotomontagem, sob a imagem de uma rua deserta, diz-se que aquilo seria uma manifestação contra a corrupção e sob a foto de uma rua tomada pela multidão, a legenda diz: Corrida pelo bônus do bolsa-família.
                Uma amiga, que conheci militante de esquerda no começo dos anos 80, aderiu à postagem maldosa e reacionária e a compartilhou no facebook. Outra amiga, esta jovem e que conheço apenas da rede social, também postou uma das tiras que tentam ser críticas e cômicas, mas que não passam de esperneio conservador.
                Costumo respeitar a opinião de todo mundo, mas vou abrir uma exceção. E por um motivo muito simples: falta às minhas amigas um mínimo de coerência. De uma com o passado, da outra com o presente. Por que digo isso? Pelo simples fato de não ter lido nenhum comentário de nenhuma das duas sobre outros benefícios concedidos pelo governo.
                Há poucos dias o Congresso votou pela regulamentação da meia-entrada para estudantes nos espetáculos públicos.  Ainda que pelas novas normas a regalia tenha sido mais democratizada, continua sendo uma regalia. Não há nenhum critério sócio-econômico para a cessão da carteirinha que dá direito ao pagamento de preço reduzido aos estudantes. Qualquer estudante poderá requisitá-la junto à UNE. Não importa se o estudante passa férias na Europa e possui carro importado para atropelar ciclistas. Ele terá direito à carteirinha. E isso é escandaloso.
                Todos sabem que os preços das entradas para teatros, shows, cinemas e campos de futebol são majorados por causa da meia-entrada. O produtor de espetáculos tendo de ceder a regalia aos estudantes, cobra a mais daqueles que não estão enquadrados entre os beneficiários do programa, para poder viabilizar seus lucros. Essa majoração atinge diretamente àqueles que sendo pobres e não estudantes nem jovens ficam alijados dos espetáculos pelos altos preços cobrados. Por que não há reclamações contra isso? 
                Ora, a resposta é óbvia. Uma vez que beneficia a classe média e os mais aquinhoados, está tudo certo. Errado, para a classe média mesquinha e burra, é beneficiar exclusivamente os pobres, como é o caso do bolsa-família. Para esta classe que destila preconceito pelas redes sociais, nada pode ser mais odioso do que um benefício ou regalia que não a contemple. 

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