Um boato maldoso sobre o bolsa-família levou multidões às
agências da Caixa Econômica em todo o Brasil. Pronto, bastou. No dia seguinte,
em vez de questionarem a quem interessaria o tal boato, a quem interessaria o
caos que se formou nas agências bancárias, quem se beneficia de qualquer descrédito
do governo e de seus programas sociais, os inteligentes do facebook começaram a
postar charges e montagens fotográficas que criticavam o programa de renda
mínima.
Numa dessas charges, há uma porta com um cartaz que diz: Bolsa-família.
Noutra porta o cartaz anuncia empregos. Há uma grande aglomeração diante da
primeira porta enquanto na segunda não há ninguém. Na fotomontagem, sob a imagem de uma rua deserta, diz-se
que aquilo seria uma manifestação contra a corrupção e sob a foto de uma rua
tomada pela multidão, a legenda diz: Corrida pelo bônus do bolsa-família.
Uma amiga, que conheci militante de esquerda no começo dos
anos 80, aderiu à postagem maldosa e reacionária e a compartilhou no facebook.
Outra amiga, esta jovem e que conheço apenas da rede social, também postou uma
das tiras que tentam ser críticas e cômicas, mas que não passam de esperneio
conservador.
Costumo respeitar a opinião de todo mundo, mas vou abrir uma
exceção. E por um motivo muito simples: falta às minhas amigas um mínimo de
coerência. De uma com o passado, da outra com o presente. Por que digo isso?
Pelo simples fato de não ter lido nenhum comentário de nenhuma das duas sobre
outros benefícios concedidos pelo governo.
Há poucos dias o Congresso votou pela regulamentação da
meia-entrada para estudantes nos espetáculos públicos. Ainda que pelas novas normas a regalia tenha
sido mais democratizada, continua sendo uma regalia. Não há nenhum
critério sócio-econômico para a cessão da carteirinha que dá
direito ao pagamento de preço reduzido aos estudantes. Qualquer estudante poderá requisitá-la
junto à UNE. Não importa se o estudante passa férias na Europa e possui carro
importado para atropelar ciclistas. Ele terá direito à carteirinha. E isso é
escandaloso.
Todos sabem que os preços das entradas para teatros, shows, cinemas e campos de
futebol são majorados por causa da meia-entrada. O produtor de espetáculos
tendo de ceder a regalia aos estudantes, cobra a mais daqueles que não estão
enquadrados entre os beneficiários do programa, para poder viabilizar seus
lucros. Essa majoração atinge diretamente àqueles que sendo pobres e não
estudantes nem jovens ficam alijados dos espetáculos pelos altos preços cobrados. Por que não há
reclamações contra isso?
Ora, a resposta é óbvia. Uma vez que beneficia a
classe média e os mais aquinhoados, está tudo certo. Errado, para a
classe média mesquinha e burra, é beneficiar exclusivamente os pobres, como é o
caso do bolsa-família. Para esta classe que destila preconceito pelas redes
sociais, nada pode ser mais odioso do que um benefício ou regalia que não a
contemple.
Nenhum comentário:
Postar um comentário