sexta-feira, 3 de maio de 2013

Leis contra a democracia



                Entre todas as instituições brasileiras, a mais desacreditada é, sem dúvida, o Congresso Nacional. Um grande número de parlamentares responde processos na justiça pelos mais variados crimes. Isso sem contar os privilégios de que desfrutam. O epíteto de ladrão lhes é dirigido, sem o menor reparo, por quase todos que acompanham a política no Brasil.
                Vez por outra nossos legisladores tentam apaziguar os críticos cortando partes irrisórias desses privilégios. Foi o que se passou há pouco tempo com o 14º e o 15° salários que recebiam em total afronta aos cidadãos. Ainda assim ficaram com 2 dos 8 salários extras que sacavam durante os 4 anos de mandato.
Ademais, há o baixo clero composto por despreparados, ineptos, evangélicos e oportunistas em geral, que nada produzem. Mal comparecem ao plenário.
                Mas, cá entre nós, como tudo isso é histórico, já nos acostumamos. Nos damos por satisfeitos quando Suas Excelências não atrapalham. Mas isso é raro. Afinal antes de que seja paga a devida propina e que se dê altos cargos comissionados aos seus filhos, sobrinhos e genros, nada acontece. Obras param, programas modernizadores emperram.
                Outro fator que distingue nossa classe política em geral e especialmente os ocupantes do Congresso, é sua total inapetência para o trabalho legislativo. Muitos culpam as medidas provisórias enviadas pelo Executivo. Estas medidas estariam sempre trancando a pauta e impedindo o labor das casas legislativas. Mas é só mais uma desculpinha safada, mais uma mentirinha dos senhores parlamentares. Há mais de 2.000 dessas medidas provisórias esperando a apreciação do parlamento, muitas há mais de 10 anos.
                Mas esse ano eles resolveram trabalhar, resolveram fazer leis. E com que nos brindam nossos representantes em matéria legal? Com um festival de propostas absurdas, estúpidas e na contramão da história.
                Uma dessas proposições avoca para o Legislativo, tirando do Executivo, o poder de demarcar terras indígenas. Claro, o projeto de lei tem o carimbo do latifúndio e o aval da bancada evangélica.
                Também vem dessa bancada um projeto de lei que dá direito a qualquer igreja, de interpor Ação Direta de Inconstitucionalidade junto ao Supremo. Ou seja, qualquer diploma legal vindo do legislativo municipal, estadual ou mesmo do Congresso Nacional poderia ser questionado por Malafaias, Valdomiros e afins. Com um simples pedido de liminar, uma seita, que tenha representação nacional, poderia paralisar uma administração.
                De tão bizarra, a proposta tenderia a dormir nas gavetas do Congresso, mas não. A estupidez cavalgou rápido pelas comissões da Câmara e está pronta para ser votada em plenário.
                Outro absurdo que pretende virar lei, também provém de gente ligada às seitas religiosas. Refiro-me ao projeto do Deputado Osmar Terra que cria a internação compulsória de viciados em drogas. De olho nas polpudas verbas que sairão dos cofres públicos para as instituições que tratam dependentes químicos, pastores e bispos de araque já estão esfregando as mãozinhas. As seitas são donas de inumeráveis campos de concentração “terapêuticos”.
                Mas o que mais escandaliza é PEC 37. Esta emenda à constituição quer tirar do Ministério Público seu poder de investigar deixando para nossos valorosos e honestos policiais o monopólio da investigação criminal. Claro, o Ministério Público incomoda. Vem dessa instituição grande número de denúncias contra os senhores políticos e suas gangues. É retaliação pura e simples.
                 Se você acha pouco, há outra proposta de lei que trás o vezo da retaliação, dessa vez contra o Supremo. É a PEC 33 de autoria do obscuro Deputado Nazareno Fonteles do PT do Piauí.
                Aprovada na CCJ, com amplo apoio da bancada evangélica, este arremedo de emenda quer que decisões do STF passem pelo crivo dos congressistas. Muitas das sumidades que integram nosso legislativo mal escrevem o nome, mas poderiam opinar sobre os doutos votos dos Ministros da mais alta Corte do país.




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