Há na minha cidade alguns jornais. Não são bem jornais, são
folhas de publicidade com uma ou outra notícia, uma ou outra coluna opinativa.
Algo assim como a revista Veja, mas sem o Constantino. Desses jornais vi o
nascimento e morte de vários. Não sei se o que os mata é a falta de assunto ou
a falta de publicidade, mas um deles ficou e tem até mesmo sua coluna social, o
horóscopo e as palavras cruzadas. Claro, continua faltando assunto.
Faz alguns anos eu folheava uma dessas publicações e me deparei
com um relato de um morador daqui. Vinha em forma de coluna, quase como
notícia. Contava o homem de sua mudança de um bairro para outro. Ele dizia que
era da montanha para a praia, mas era de um bairro que fica no alto e afastado
uns dois ou três quilômetros da praia para outro à beira mar plantado.
Talvez por ter se dado conta que algo tão prosaico como meter
uma geladeira e outros trecos num caminhão ladeira abaixo não poderia
interessar a ninguém mais além dele, o narrador resolveu colorir seu relato e
usou uma expressão em voga naqueles dias. Falou, referindo-se à sua satisfação
com a nova morada, que o universo conspirara a seu favor.
Pois é, assim é o ser humano em sua infinita estultice. O
sujeito olha o firmamento, vê a imensidão; lê, estuda, assina as revistas
científicas e na hora H acha que bilhões de estrelas, buracos negros, quasares
e nebulosas estão em movimento para que tudo saia bem na sua mudança da
Encantada para o Siriú.
Já vai passando de moda falar das conspirações do universo. O
destino dessas coisas é o baú das necedades onde já estão a regressão de vidas
passadas, o feng shui e os crocs.
De vez em quando alguém mexe no baú e tira de lá seu ganha
pão, sua fama e seu prestígio. É o caso dos leitores de aura.
Lá pelos 70 esse negócio funcionava e tinha sempre alguém que
olhava pra gente com cara de desgosto por ter encontrado nossa aura suja, pouco
luminosa ou poluída. Os cursinhos de leitura de aura de fim de semana
proliferavam. Alguns quiseram fazer disso uma ciência. Havia maquininhas de ver
aura e seus intérpretes.
Hoje, leio com assombro que em São Paulo tem um desses
leitores de aura que é o guru da elite paulistana. A consulta custa 400 reais e
o cursinho 2.500. Viagem à Índia, acompanhado pelo guru, sai por 7.000, mas aí
é dólar. Tem também retiros e palestras. Claro.
O sujeito contabiliza mais de 1.500 leituras, mas diz que faz
tudo por amor e fundou um movimento intitulado New Ways. Tem mais de 5 mil
seguidores. Esse também deve achar que o universo conspira a seu favor.
Como pode existir ainda, em pleno século 21, gente que acredita e paga para ouvir baboseiras?
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