Em cidades pequenas como a
minha, não há repetidoras de sinal de TV, portanto, na propaganda eleitoral
gratuita veiculada por esse meio de comunicação, não vemos os candidatos locais.
Esse tema já mereceu discussão pelo TSE. A questão parece insolúvel.
Para que seus nomes cheguem aos
eleitores, esses candidatos locais contam com o conhecimento prévio, além dos
santinhos, cartazes e os famigerados carros de som que circulam todo o dia pela
cidade durante todo o tempo permitido pela legislação eleitoral.
Pelo menos aqui, o som infernal
não traz nenhuma proposta, nenhuma idéia, nem sequer menciona a sigla dos
partidos que pedem o voto.
Penso que a omissão da sigla
partidária tem duas funções: primeiro facilita o voto dos analfabetos que
poderiam se perder na sopa de letrinhas partidárias. (No Brasil temos 30
partidos registrados junto ao TSE, 29 estão nessa disputa municipal.) Outra
função seria a de tentar esconder a sigla. Basta que ouçamos os nomes dos grandes partidos ou as letras que os identificam, para fazermos
rapidamente uma conexão mental com algum escândalo de corrupção. Escutamos 2, 3
ou 4 letras e já nos vem à mente a imagem de algum deputado, senador, prefeito
ou governador acusado das piores pilantragens, dos maiores desmandos.
Mas o que traz então o som que
nos desperta, que acorda os bebês, que interrompe a sesta dos velhos e o
descanso dos doentes? Traz musiquinhas. Não músicas originais, senão paródias
dos sucessos da atualidade. Músicas de Teló, Santana e outros bichos, recebem
letras alusivas às candidaturas. O que era o purgatório de nossa existência,
passa a ser um inferno nesses dias que deveriam ser de afirmação da democracia.
Outro dia, enquanto pedalava indo
ao supermercado, fui perseguido por um desses carros de som que seguia em
marcha lenta logo atrás de mim. Com um vento nordeste contra e a saúde a meia
boca, não pude acelerar para livrar-me da horrível sinfonia dos infernos.
Tampouco havia alguma rua para virar, nem à direita nem à esquerda. Assim que
por uns duzentos e lentos metros, tive que ouvir uma dúzia de vezes uma voz
estridente, no melhor estilo sertanejo universitário, bradar no meu ouvido:_
“Eu quero já, eu quero já, votar no 25, votar no 25” .
Se algum dia eu enlouquecesse e
resolvesse votar nesse moribundo partido, após a penitência de ouvir sua triste
paródia política por tanto tempo, eu teria desistido de dar meu voto.
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