Você pode achar que eu implico
com o Juca Kfouri. Muito pelo contrário, muito pelo contrário. Tenho na figura
do Turco um exemplo de retidão profissional, de jornalista arguto e pouco
afeito às pompas do mundo. O cara não é adepto do jornalismo subserviente, nem
faz composições oportunistas com os poderosos do futebol. É homem de opinião e
mostra a cara.
Mas vez por outra Juca Kfouri me
deixa perplexo. Não em sua última coluna ou na penúltima, mas muitas vezes ele
vem defendendo a contratação de um técnico estrangeiro para nossa seleção. Ele
fala “estrangeiro”, não esclarece se o sujeito deva ser Jordaniano ou Japonês,
Uruguaio ou Afegão. Parece que o único requisito é não ter nascido nessa terra
descoberta por Cabral. E não só para a seleção, Juca quer ver técnicos gringos
também nos clubes. Creio que o decano jornalista não anda prestando a devida
atenção aos fatos que deveriam ser a matéria prima de seu ofício.
Se disse que não era na sua última
coluna nem na penúltima é porque nessas, Juca Kfouri deu-se ao trabalho de nos surpreender
com um novo estilo. Para melhor se comunicar com você e comigo, o Turco
resolveu chamar-nos de raro leitor, rara leitora. Fica até bonito
estilisticamente, quase simpático. Mas não é verdade, é falso, é postiço. Juca
Kfouri é um dos jornalistas esportivos mais lidos no país por quem realmente se
interessa por futebol e não por fofocas esportivas.
Quando eu trato você por “você”,
é que muitas vezes só conto com sua benevolência para dividir comigo uns
pensamentos, umas divagações. Não é questão de estilo, é apenas a constatação de
que estou conversando com uns poucos, uns raros. Mas não importa o tamanho do público
e sim sua qualidade. E aqui, bajulo você para que me siga num raciocínio que
começa a parecer pueril em comparação a todas as vozes que se levantam para
afirmar o contrário.
A tese do Juca, de que
precisamos de técnicos estrangeiros, também é defendida por muitos de seus
colegas de profissão. Tostão é um deles. Nada me parece mais absurdo. Senão,
vamos aos fatos: Das 19 Copas disputadas, a Seleção Brasileira ficou entre as 4 melhores
por 10 vezes, 7 vezes entre as 2 melhores, 5 vezes campeã. Sempre com técnicos
brasileiros. A última conquista foi em 2002, dez anos atrás, o que não é
nenhuma eternidade, foram só 2 Copas. Nesse ínterim ganhamos 2 Copas das
Confederações, 2 Copas América e uma medalha olímpica. Sempre com técnicos
brasileiros.
Se quisermos agregar mais alguns
fatos que andam esquecidos por Juca Kfouri, podemos citar que a seleção
portuguesa teve seus 2 melhores desempenhos em Copas quando foi comandada por técnicos
brasileiros, o mesmo aconteceu com a seleção peruana. A única vez que a Jamaica
foi à Copa seu técnico era René Simões. Parreira é, ao lado de Bora Milutinovic, o
técnico que mais Copas disputou, com a vantagem de ter ganho uma delas.
Amanhã disputaremos a final do
torneio de futebol dos Jogos Olímpicos. Não sei se ganharemos ou não. Sei, sim,
que uma medalha está garantida e que a Seleção foi uma vez mais comandada por
um técnico brasileiro. Ficaram fora a seleção da Espanha, tão citada por
comentaristas brasileiros como o supra sumo do futebol e também a seleção
uruguaia e seu técnico tão endeusado pelo 4° lugar que conquistou na África do
Sul e por ter sido campeão da Copa América. Pelo caminho também ficaram os
donos da casa, e a Argentina sequer se classificou para o torneio.
Tendo por comandante um técnico
brasileiro, a Seleção já botou uma medalha no peito. Amanhã saberemos de que
metal.
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