sábado, 12 de janeiro de 2013

Aurora



                Aurora foi minha primeira namorada. Pelo menos, meu primeiro namoro sério, com conhecimento dos pais e direito à varanda e mãos dadas. Antes eu já namorara na escola, teve a Elizeth, a Fátima, mas eram namoros públicos com o coro dos confrades, na saída das aulas, entoando a infame cantiga: tira a mão do bolso, pega na mão dela... Muito constrangedor quando se tem 14, 15 anos.
                Com Aurora foi diferente, eu a via em sua casa duas vezes por semana e a buscava clandestinamente na escola, todos os dias. Primeiro no Pio XII, depois no Colégio Loyola.
                 Passamos férias juntos, no Rio. Sua família tinha apartamento lá e eu tinha minha Tia Alina, que sempre me acolhia por longas temporadas.
                 Foi naquelas férias que eu a vi de biquini.  Ruiva, Aurora tinha amplos quadris, seios pequenos e coxas grossas, cobertas de sardas. Nosso namoro foi casto, ou quase isso, como convinha a uma menina de família daquela Belo Horizonte extremamente conservadora do começo dos 70.  Eu tinha 16 anos, Aurora, 13.
                Mas houve aquelas férias, o Rio, o verão e o biquíni. Também havia o elevador do prédio onde minhas mãos puderam conhecer Aurora, os seus seios de bicos túmidos, suas coxas quentes, que o sol havia tingido de ferrugem.
                Um dia, já de volta a Belo Horizonte, Aurora buscou minha mão e levou-a por debaixo da blusa e do sutiã. Estávamos na varanda, separada da casa por uma porta de vidro que, vez por outra, mostrava o vulto de seu pai em contínua vigilância. Aquela intimidade, concedida ali, pôs passarinhos em minha cabeça. Depois daquela noite, eu tive a sensação de ser outro.
                Ainda me lembro de seu endereço, seu telefone, seu nome completo. E, o que chega a ser engraçado, me lembro da placa do carro de seu pai, uma Variant cinza, frente baixa.
                Nosso namoro durou pouco mais de 6 meses, e um dia, sem mais nem menos, ela terminou comigo.
                Anos mais tarde, eu acordei de ressaca ao lado da Zuleide e lembrei-me da Aurora. Pensei por um momento que já havia percorrido amorosamente todo o alfabeto. Mas não. Faltava ainda o D, o O e o X.


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