Aurora foi minha primeira namorada. Pelo menos, meu primeiro
namoro sério, com conhecimento dos pais e direito à varanda e mãos dadas. Antes
eu já namorara na escola, teve a Elizeth, a Fátima, mas eram namoros públicos com
o coro dos confrades, na saída das aulas, entoando a infame cantiga: tira a
mão do bolso, pega na mão dela... Muito constrangedor quando se tem 14, 15
anos.
Com Aurora foi diferente, eu a via em sua casa duas vezes
por semana e a buscava clandestinamente na escola, todos os dias. Primeiro no
Pio XII, depois no Colégio Loyola.
Passamos férias
juntos, no Rio. Sua família tinha apartamento lá e eu tinha minha Tia Alina,
que sempre me acolhia por longas temporadas.
Foi naquelas férias que eu a vi de biquini. Ruiva, Aurora tinha amplos quadris, seios
pequenos e coxas grossas, cobertas de sardas. Nosso namoro foi casto, ou quase
isso, como convinha a uma menina de família daquela Belo Horizonte extremamente
conservadora do começo dos 70. Eu tinha
16 anos, Aurora, 13.
Mas houve aquelas férias, o Rio, o verão e o biquíni. Também
havia o elevador do prédio onde minhas mãos puderam conhecer Aurora, os seus
seios de bicos túmidos, suas coxas quentes, que o sol havia tingido de ferrugem.
Um dia, já de volta a Belo Horizonte, Aurora buscou minha
mão e levou-a por debaixo da blusa e do sutiã. Estávamos na varanda, separada
da casa por uma porta de vidro que, vez por outra, mostrava o vulto de seu pai
em contínua vigilância. Aquela intimidade, concedida ali, pôs passarinhos em
minha cabeça. Depois daquela noite, eu tive a sensação de ser outro.
Ainda me lembro de seu endereço, seu telefone, seu nome
completo. E, o que chega a ser engraçado, me lembro da placa do carro de seu
pai, uma Variant cinza, frente baixa.
Nosso namoro durou pouco mais de 6 meses, e um dia, sem mais
nem menos, ela terminou comigo.
Anos mais tarde, eu acordei de ressaca ao lado da Zuleide e
lembrei-me da Aurora. Pensei por um momento que já havia percorrido
amorosamente todo o alfabeto. Mas não. Faltava ainda o D, o O e o X.
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