Morro Agudo é um bairro de Nova Iguaçu, na Baixada
Fluminense. Há muito que o nome oficial da localidade foi trocado para
Comendador Soares, mas o povo de lá prefere a antiga designação. Eu também.
Parece-me muito mais simpático um nome que nos traz à mente um acidente
geográfico que o de uma pessoa que, sabe-se lá porquê, recebeu uma comenda. Além
do mais, se existe um título que me causa antipatia é o de comendador. Este, o
Soares, era o antigo proprietário da Fazenda Morro Agudo, que ele doou à Santa
Casa de Misericórdia e que, depois de loteada, deu origem ao bairro.
Eu comecei a freqüentar Morro Agudo por causa do Tupynambá,
um colega de trabalho. Isso foi em 82 ou 83. O Tupy, como era chamado, foi uma
das melhores pessoas que conheci. Bom, honesto, discreto e amigo.
A primeira vez que lá estive, foi por ocasião do casamento
do Rodrigo, nosso chefe na concessionária de veículos onde trabalhávamos e que
também era (ou fora) morador de Morro Agudo. Foi uma festa e tanto, regada à
batidas de um famoso fabricante da área. Tomei um porre antológico. Dormi na casa
do Tupy, que vivia com sua família a poucos quarteirões do salão de festas. No dia seguinte, ao
despertar, encontrei minha roupa, que estava em estado lastimável no fim da
noite, lavada e passada ao pé da cama onde eu dormira. Uma das muitas
gentilezas que recebi dessa família adorável.
Continuei indo a Morro Agudo e num carnaval passei por lá.
Não tinha planos, e com meu amigo, fui brincar no Vasquinho, o clube do bairro.
Foi nesse baile que a vi.
De saia curtíssima e bustiê de oncinha, a garota se
destacava. E não é que não houvesse mulheres bonitas. Ela era um espetáculo de
sensualidade. Muito bronzeada, de corpo perfeito, cara de safada. Linda.
Na minha primeira investida, ela me ignorou, mas continuava
me olhando de vez em quando. Um tipo de paquera que pra ter êxito exige
pertinácia, insistência. E eu era bom nisso. Mas sutilmente o Tupy me chamou de
lado e, em meio ao burburinho, falou algo sobre a turma da moça, barra pesada.
Muito a contragosto, acabei desistindo da paquera. O Tupy
não era nenhum empata e se falara aquilo é porque algum motivo teria.
Em 89, depois de passar dois anos em Buenos Aires, eu voltei
ao Rio e fui procurar meu amigo em Morro Agudo. Lembro-me bem da data: um
sábado, dia da decisão do campeonato brasileiro daquele ano. O jogo foi
realizado no sábado, pois no domingo haveria o segundo turno da eleição que
acabou por depositar o infame Fernando Collor de Merda no Palácio do Planalto.
Após a vitória do Vasco sobre o São Paulo, fomos para a casa
da namorada do Tupy para assistir uma fita pirata que era vendida como se fosse
do filme “A última tentação de Cristo” de Scorcese, então proibido de ser
exibido no Brasil por pressão da igreja católica. Não era o original, senão uma
outra produção barata com mais ou menos a mesma temática.
Quando ficamos a sós, lembrei-me daquela garota do carnaval
e perguntei o que meu amigo sabia dela. O que ele me contou foi terrível.
A moça era mesmo barra pesada. Bonita e gostosa, ela freqüentava
lugares movimentados da Baixada, dava mole e atraía os incautos para certo
lugar onde sua rapaziada estava esperando para depenar o coitado que pensava
estar se dando bem com aquele monumento. Em pelo menos um caso, houve reação e
morte.
Um dia, a vítima foi mal escolhida. O cara também era
ferrabrás e não se conformou com o golpe da gostosa. Dias depois de ter sido
assaltado, voltou ao local com os seus e matou a moça mais bonita de Morro
Agudo.
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