Ando sempre
fazendo o que condeno que outros façam. Tenho essa falha de caráter que se
junta à muitas outras para formar o buquê de minhas vergonhas. Não alego que
seja tarde para mudar, nunca é. Acontece que sou preguiçoso e comodista, mais
que nada, acomodado nas minhas fraquezas. Paciência.
Como já disse
aqui, nada mais chato que um contador de sonhos. E há muitos. Seu defeito não é
apenas narrar o sonho que teve, mas mentir sobre ele. O contador de sonhos cria
enredos mais inverossímeis do que os da novela da Globo para seus sonhos.
Sabemos que tais enredos não habitam o mundo onírico. Apenas escutamos,
pacientemente, o contador de sonhos e nos entediamos em silêncio. Jamais lhe
cremos.
Acho que Jung é que era o especialista nesse
negócio de sonhos. Eu nunca li Jung. O mais perto que cheguei da interpretação
dessas manifestações do subconsciente, foi em 78. Eu morava no Méier e li um
livro do Erich Fromm que abordava o tema. Pouco me lembro daquela leitura. Já
faz tempo e o livro não foi tão impactante assim. Lembro sim, que morava no
Méier. Do lado de lá da via do trem, do lado do Jardim do Méier, da igreja, do
hospital e dos bombeiros, na Visconde de Tocantins.
Bem, como sugeri
vou relatar um sonho e lhe dou toda a liberdade para, sem nenhuma cerimônia, abandonar
aqui mesmo essa narração que já está adiantada sem nada ter dito.
Minha tardança
vem do constrangimento que me causa contar o que sonhei, ou melhor, em contar
com quem sonhei. Pois lá vai: eu sonhei com a Gleisi Hoffman.
Não foi o tipo
de sonho que você está pensando, minha lúbrica amiga. Nem acho que a figura da
pequena ministra se preste aos sonhos libidinosos. Não que seja desprovida de
encantos, não. A baixinha até que é bonitinha com seu olhar de míope. Tampouco
são seus ministeriais tailleur que impedem um sonho licencioso. Não é isso, já
despi, em pensamentos, muitas mulheres de tailleur. Ministras inclusive. Ministras
da Suprema Corte inclusive.
O que faz de Gleisi
inacessível ao sensual é seu jeito de filha de pastor luterano, seu cabelo de
rainha do laquê imune às ventanias e, principalmente, sua maneira de falar;
impositiva, inflexível, chata.
Pois é, Gleisi tem jeito de mulher chata. Mesmo
num sonho ela não deixa de parecer chata. Não consigo sequer imaginá-la indo de
calcinha fritar um ovo restaurador de energias ou saltando suada da cama a
buscar uma cerveja para o refrigério. Acho que Gleise jamais fritaria um ovo
para mim depois do amor. Gleisi não freqüentaria aquele apartamento conjugado e
eu não a veria sair da cama de calcinha para fritar um ovo.
Não posso ter um
sonho erótico com uma mulher que não consigo imaginar, de calcinha, numa tarde
quente, fritando um ovo num apartamento conjugado.
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