quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Um palpite e algumas constatações


É só um palpite, mas creio que o Supremo vá liberar as biografias não autorizadas. Acho que a  corte acatará a ADI impetrada pelos editores.
O resultado prático da decisão judicial favorável à liberdade de expressão será uma grande quantidade de biografias saídas das penas de Rui Castro, Sérgio Cabral (pai), Fernando Morais e outros craques. Muitas personalidades da história do país terão suas vidas contadas, suas aventuras e desventuras narradas por essa gente que já tem um acervo de títulos memoráveis.
Certamente que a novidade de qualquer um poder escrever sobre a vida de pessoas famosas sem temer demandas judiciais que venham a impedir a comercialização do livro, atrairá outro tipo de biógrafo. Eu não estranharia encontrar em breve nas livrarias a biografia não autorizada de Valeska Popozuda escrita por Nelson Rubens ou a saga de Suzana Vieira assinada por Leão Lobo.
Muitos irão se adiantar e contratarão suas próprias biografias não autorizadas. Em vez de escritores fantasmas, biografados fantasmas. O escândalo sob encomenda pode vir a ser uma nova moda editorial.
Mas por que estou antevendo tantos atos vis antes mesmo que o caso seja julgado? Ora, porque os argumentos que são usados para desqualificar os que advogam pelo direito à privacidade são dessa índole, e me fazem pensar em interesses idem.
Hoje li na coluna de Anselmo Gois, n’O Globo, a seguinte notinha assinada por Jorge Antônio Barros: “Circula pelo território livre da internet um vídeo no qual Roberto Carlos saúda o presidente do Chile, general Augusto Pinochet, em 1975, dois anos depois do golpe militar.” Abaixo vem a ligação para o youtube com o vídeo do festival de Viña Del Mar onde ocorreu a saudação do Rei ao carniceiro chileno.
Roberto Carlos é um dos que querem ver seu direito à privacidade prevalecendo sobre a liberdade de expressão, e a retirada de sua biografia das livrarias por ordem judicial, foi, em última instância, o que detonou o protesto de biógrafos e editores que entraram com uma ADI junto ao Supremo.
Agora a imprensa lembra daquele fato ocorrido em Viña Del Mar. 38 anos depois lembram daquilo. Justo a imprensa brasileira que nunca criticou Bono Vox por suas sorridentes fotos ao lado de Putin quando o presidente russo massacrava os chechenos. Logo a imprensa brasileira que faz cutchi-cutchi para o herdeiro do império britânico. A grande (?) imprensa brasileira que acha que é uma honra ser recebido por Obama enquanto o havaiano prossegue com a matança no Iraque e mantém aberto o campo de concentração de Guantánamo. A mesma imprensa que criticou a política externa do Brasil por sua atuação legalista no golpe de Honduras. A sereníssima imprensa dos Marinho, Frias, Mesquitas e afins que apoiou a ditadura brasileira. A imprensa monopolista brasileira que, em editoriais e reportagens, sustentou a legalidade do golpe no Paraguai e a tentativa de deposição de Hugo Chaves.
Roberto Carlos nunca fez o gênero politizado, ao contrário de Bono Vox e outros que tais. Roberto saudou o açougueiro chileno, eu diria, ingenuamente e não como fazia a imprensa brasileira naquele tempo, com a euforia de um Plínio Correia, fundador e líder da TFP (Tradição, Família e Propriedade) em sua coluna na Folha de São Paulo.

O debate em torno da questão das biografias poderia ser rico. O lado que defende a liberdade de expressão dos biógrafos pode estribar-se em doutrinas, pode argumentar tendo por base o direito comparado, a declaração universal dos direitos do homem, o bom senso, o escambau. Não precisa de advogados de porta de cadeia que usem de expedientes tão mesquinhos.

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