Quando Honoré de
Balzac escreveu, na primeira metade do século 19, sua ode à mulher de 30 anos,
era comum que moças se casassem aos 16, 15, 14 anos de idade. Minha avó casou-se
assim, em plena adolescência, já no começo do século passado..
Não era o caso
dos homens, ao contrário. Entre as classes médias e abastadas era necessário
estabelecer-se financeiramente antes de contrair matrimônio. Mocinhas, mal
saídas da infância eram desposadas, muitas vezes, por homens já maduros.
Ao chegar aos
trinta anos, uma mulher do século 19, estava na iminência de tornar-se avó.
Claro que não há conveniência social nem costumes do tempo que façam com que a
beleza de uma mulher dessa idade se esvaneça. Só a extrema miséria ou o sofrimento
desmedido é que têm a capacidade de apagar a luz de uma mulher de trinta anos.
Na minha
infância, eu escutei muito falar de balzaquianas quando os mais velhos
referiam-se às mulheres que entravam nessa fase da vida. Se a mencionada fosse
uma rara mulher solteira daqueles anos 60, o epíteto vinha em tom de censura ou
deboche. Meu pai usava muito o termo balzaquiana e creio que foi dele que o
aprendi.
Mas agora vejo
que a alcunha de balzaquiana para uma mulher de tal idade, estava fora da
realidade daqueles anos. A mulher de trinta anos de Balzac teria, nos anos 60
do século passado, por volta de 37, 38 anos. Talvez 40. A mudança de costumes,
a sociedade e talvez a Elizabeth Arden fizeram isso.
Hoje, a balzaquiana tem exatos 50 anos.
Aqueles encantos que o mestre francês descreveu para sua Julie, habitam os
corpos, corações e mentes das mulheres de 50 anos que vemos diariamente nas
calçadas, nas praias, nos cinemas ou mesmo nos supermercados.
E, creio, que
nem o tempo nem a sociedade nem o sabonete Dove tenham algo a ver com isso. Foi
a mulher que dilatou o tempo, que estendeu o viço. Foi a mulher que arrombou
as portas e se libertou da tirania dos usos e costumes. Foi ela que tomou a
liberdade de sua beleza madura negada há séculos, milênios.
Os homens não. Eles
ficaram ali jogando gracejos pras mocinhas, fazendo galhofa das balzaquianas. Ainda
hoje os vemos assim, a repetir, ou pelo menos querendo repetir, a cena
desgastada pela interpretação de mil canastrões.
Não há um sequer
que, após uma operação plástica nas pálpebras, uma aplicação de Koleston ou mesmo
uma cirurgia bariátrica, não se sinta um galã pronto para raptar o coração de
mulheres 20, 30 anos mais jovens. Desde
o comerciante de secos e molhados até o candidato à presidência, todos pagam o
mico de passarem-se por coronéis.
Nos outros eles vêem
o ridículo da situação, não em si mesmos. O homem maduro se crê desejável pelo
seu poder de mandar, comprar, influir. Não vê que é o poder e não ele que faz o
serviço do amor a domicílio.
Esses homens,
no afã de iludir a passagem dos anos, de demonstrar sua virilidade comprada
em comprimidos, de sentirem-se jovens, estão perdendo a chance de descobrir as
mulheres de 50 anos.
Se a Madame Clessi
de Nelson Rodrigues dizia que toda mulher só devia se apaixonar por meninos de
17 anos, eu, mesmo correndo o risco de ser coberto pelo escárnio dos tolos,
penso que o homem só deveria amar as mulheres de 50 anos. As balzaquianas de 50
anos.
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