quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Política de extermínio


É uma política de segurança pública muito simples: baseia-se na intimidação, no terror e no extermínio. No Rio optou-se pela ocupação de comunidades como se fossem território inimigo. Para lugares densamente povoados foram mandados tanques de guerra e efetivos das forças armadas. Para desalojar traficantes, dizia a propaganda. Para subjugar o gueto, diz a realidade das balas “perdidas”, dos meninos que tombam tachados de marginais, de perigosos marginais.
Já nas primeiras ocupações, policiais invadiam toda e qualquer moradia para intimidar moradores e até mesmo furtar-lhes pertences. Invadiam, já não por sua conta, como de costume, mas com o aval do poder público. Sob aplausos de incautos e cínicos.
Instaurou-se o terror e o caos aos quais deu-se o nome de Unidade de Polícia Pacificadora. Nas reportagens das TVs que propagandeavam a ocupação, vimos risonhos policiais afagando criancinhas e levantando o polegar para os moradores que passavam. Mesmo tosca, mesmo copiada das campanhas políticas, a propaganda do estado funcionou. Muita gente acreditou que algo estava sendo feito em favor das populações dos morros e favelas, inclusive a Presidenta Dilma, que em visita à capital fluminense, elogiou o programa de polícias pacificadoras e disse que serviam de exemplo para outros estados.
 A peça publicitária do governo de Cabral dizia que enfim o estado estava chegando às comunidades carentes com os serviços que sempre foram negados. Mas as valas negras continuam lá. Não foram instaladas creches nem postos de saúde. Nenhuma escola subiu o morro. Sequer o lixo é coletado. O que houve foi ocupação militar e seus previsíveis desdobramentos.
A morte de Amarildo desnudou a farsa. Mostrou que nada se modificara na relação da polícia com as populações mais pobres. Também haja ingenuidade para crer que depois de um cursinho de três semanas, dado a policiais formados na brutalidade e na corrupção, se romperia com práticas de 400 anos.
Depois do crime, quase todos os comandos das “pacificadoras” foram trocados. Monta-se uma nova farsa. É como se a morte de Amarildo fosse um problema de comportamento de indivíduos e não de uma ação deliberada do estado.
O total desrespeito aos direitos básicos do ser humano foi a norma desde sempre quando de pobres se trata. Nas favelas e periferias imperam leis de exceção: toque de recolher, cerceamento do direito de ir e vir, e outras. Entre as outras, que sequer estão previstas como medidas excepcionais, estão a tortura, o esculacho, a desumanização.
Em São Paulo, a morte do menino Douglas pelas mãos de um facínora fardado, cumprindo as ordens explícitas ou não do poder público, deixou claro que também naquele estado da federação não há titubeios na hora de apertar o gatilho para matar pobres.
As mortes de Amarildo e Douglas ( pardos, pobres) dão bem a dimensão da nova velha política de segurança pública posta em prática nas duas maiores cidades do país. Não há coincidência, não há desvio de conduta de indivíduos, não há mal entendido. Há sim uma política de extermínio. Que obviamente fracassará.



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