É uma política
de segurança pública muito simples: baseia-se na intimidação, no terror e no extermínio.
No Rio optou-se pela ocupação de comunidades como se fossem território inimigo.
Para lugares densamente povoados foram mandados tanques de guerra e efetivos
das forças armadas. Para desalojar traficantes, dizia a propaganda. Para
subjugar o gueto, diz a realidade das balas “perdidas”, dos meninos que tombam
tachados de marginais, de perigosos marginais.
Já nas primeiras
ocupações, policiais invadiam toda e qualquer moradia para intimidar moradores
e até mesmo furtar-lhes pertences. Invadiam, já não por sua conta, como de costume,
mas com o aval do poder público. Sob aplausos de incautos e cínicos.
Instaurou-se o
terror e o caos aos quais deu-se o nome de Unidade de Polícia Pacificadora. Nas
reportagens das TVs que propagandeavam a ocupação, vimos risonhos policiais
afagando criancinhas e levantando o polegar para os moradores que passavam.
Mesmo tosca, mesmo copiada das campanhas políticas, a propaganda do estado
funcionou. Muita gente acreditou que algo estava sendo feito em favor das
populações dos morros e favelas, inclusive a Presidenta Dilma, que em visita à
capital fluminense, elogiou o programa de polícias pacificadoras e disse que
serviam de exemplo para outros estados.
A peça publicitária do governo de Cabral dizia
que enfim o estado estava chegando às comunidades carentes com os serviços que
sempre foram negados. Mas as valas negras continuam lá. Não foram instaladas
creches nem postos de saúde. Nenhuma escola subiu o morro. Sequer o lixo é
coletado. O que houve foi ocupação militar e seus previsíveis desdobramentos.
A morte de
Amarildo desnudou a farsa. Mostrou que nada se modificara na relação da polícia
com as populações mais pobres. Também haja ingenuidade para crer que depois de
um cursinho de três semanas, dado a policiais formados na brutalidade e na
corrupção, se romperia com práticas de 400 anos.
Depois do crime,
quase todos os comandos das “pacificadoras” foram trocados. Monta-se uma nova
farsa. É como se a morte de Amarildo fosse um problema de comportamento de
indivíduos e não de uma ação deliberada do estado.
O total
desrespeito aos direitos básicos do ser humano foi a norma desde sempre quando
de pobres se trata. Nas favelas e periferias imperam leis de exceção: toque de
recolher, cerceamento do direito de ir e vir, e outras. Entre as outras, que
sequer estão previstas como medidas excepcionais, estão a tortura, o esculacho,
a desumanização.
Em São Paulo, a
morte do menino Douglas pelas mãos de um facínora fardado, cumprindo as ordens
explícitas ou não do poder público, deixou claro que também naquele estado da
federação não há titubeios na hora de apertar o gatilho para matar pobres.
As mortes de
Amarildo e Douglas ( pardos, pobres) dão bem a dimensão da nova velha política
de segurança pública posta em prática nas duas maiores cidades do país. Não há
coincidência, não há desvio de conduta de indivíduos, não há mal entendido. Há
sim uma política de extermínio. Que obviamente fracassará.
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