domingo, 20 de outubro de 2013

Biografias não autorizadas, continuo procurando saber


Não faz muito tempo. Era o aniversário de Dalton Trevisan. O escritor paranaense completava 88 anos e a TV fez uma reportagem. Era uma típica reportagem de TV: superficial, fútil, banal. O aspecto mais abordado foi a reclusão em que vive o escritor e não sua obra.
Mas, verdade seja dita, esse aspecto foi longamente explorado. Serviria de alerta para quem pensasse em desrespeitar a escolha pelo recolhimento do autor que nunca aparece, que jamais concede entrevistas, de quem só conhecemos as feições por fotos antigas que estão na Wikipédia.
No entanto, a segunda parte da reportagem nos guardava uma surpresa. Depois de tanto bater na tecla do retraimento em que vive o contista octogenário, o que fez o repórter? Foi postar-se à porta da casa de Trevisan. Com a câmera oculta pelos arbustos que guarnecem a residência, filmaram-no de longe, entretido com as coisas de seu quintal. Com o microfone atrás das costas, o jornalista perpetrou mais uma infâmia e chamou o dono da casa. Este veio ver, e dando-se conta do que se tratava correu em busca de refúgio no interior da morada. Um homem de 88 anos teve de correr para poder preservar algo que lhe é caro: sua privacidade.
Por que cito essa história? Bem, porque estou procurando saber algo sobre as biografias não autorizadas. O que tem a ver uma coisa com a outra? Ora, tudo. Trata-se de privacidade e de saber se esse direito pode estar acima do direito à livre expressão dos escritores biógrafos ou dos repórteres bisbilhoteiros. Realmente não sei.
O desrespeito ao escritor curitibano me faz crer que pode não haver limites quando se trata de fazer sensacionalismo ou de querer ganhar dinheiro a custa da fama alheia. Mas não deixo de pensar no que disse o ex-ministro Aires Brito quando afirmou que “não se pode alegar o abuso para coibir o uso”.
Como disse, continuo procurando saber.


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