Não acredito em voto útil. Acredito, isso sim, no voto por
convicção. O sistema eleitoral brasileiro, depois da adoção do 2º turno nas
eleições majoritárias, proporciona, antes de tudo, o voto ideológico, o voto em
princípios éticos e políticos.
Mas aconteceu o fenômeno Marina da Silva que em menos de duas
semanas deixou Aéreo Neves para trás e empatou com Dilma nas pesquisas de
intenção de votos. É nesse clima que começo a cogitar o voto útil em Dilma para
ajudar a evitar a catástrofe.
Parece que o povo tem a capacidade inata de crer em
candidatos messiânicos e oportunistas. Assim foi com Jânio e Collor. Como no caso de Marina, as candidaturas do maluco e do empalado se amparavam no discurso grandiloqüente
e vazio, nas frases de efeito e na ausência de um programa sério de governo. Tal como Jânio, Marina se vê acima dos partidos. Tanto é assim que já usou o PV e agora usa o PSB para seu projeto pessoal,e como Collor, pariu um partido próprio para o mesmo fim. No caso da eco-evangélica, o atropelo da pressa não permitiu o registro da sigla em tempo hábil, daí a necessidade da barriga de aluguel.
O episódio do pito de Malafaia que fez Marina botar o galho
dentro juntamente com toda a cúpula do PSB, nos dá uma mostra eloqüente de como
seria um governo encabeçado (ou descabeçado?) pela acreana.
Mas se a parte expurgada do programa de governo mostra a que
tipo de retrocesso estaríamos expostos caso Marina vencesse as eleições, o que
não foi mexido, talvez por não estar entre as preocupações de Malafaia, é o que
realmente deveria nos aterrorizar. Marina propõe, entre outras coisas, o abandono
do programa do pré-sal. Deseja a pseudo ambientalista que usemos a terra, não
para plantar alimentos e sim para plantar combustíveis.Os recursos investidos e a tecnologia adquirida pela estatal petroleira seriam atirados no lixo para que Marina continuasse posando de salvadora do planeta enquanto entregasse a segurança energética nas mãos do latifúndio monocultor.
A proposta, que encontra eco entre muitos preservacionistas
de não sei o quê, foi ovacionada quando
a candidata se apresentou para uma platéia formada por latifundiários
plantadores de cana do nordeste. Claro.
Marina também quer a autonomia do Banco Central. A proposta, que fez furor no auge do neo liberalismo e que
deixou de ser mencionada até mesmo pelos tucanos, certamente foi sugestão de
Madame Itaú. Mesmo Lara Resende, que já deu pitacos sobre nova política para Collor e FHC,
não deve ser um grande entusiasta desse choque de liberalismo, principalmente
depois da crise mundial do capitalismo que teve sua origem na falta de regulamentação
do sistema financeiro americano.
Abrir mão do Banco Central como ferramenta de política
econômica e entregá-lo aos interesses do mercado financeiro é, para dizer o
mínimo, de uma irresponsabilidade que só pensaríamos ver no programa de governo
do Pastor Everaldo.
O programa de governo proposto pelo PSB é o retrato de
Marina: confuso, titubeante, prolixo e vazio. Vai do voluntarismo pueril ao
mais descarado oportunismo.
Não tenho dúvida que a eleição de Marina Silva seria uma
catástrofe para o país assim como foram
as eleições de Jânio e de Collor e com conseqüências
imprevisíveis.
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